domingo, 7 de março de 2010

...

Queria ser grande mas não percebia que já era.
Sempre fora bom para os outros, a base dos outros, aquilo que todos querem ser ou ter.
Mas embora muitos o quisessem ele não queria ninguém.
Por que não queria ninguém?
Por que ele nunca o teve mesmo.
A intensa busca de se achar com medo de se encontrar.
O menino embarcou no trem da vida já marcando a estação para descer.
Mas descer pra quê? Por quê? Onde?
Não se pára o trem da vida para descer em qualquer lugar.
O trem só para quando é preciso. Seu fluxo é natural. Quando cortamos a naturalidade nos perdemos em caminhos tortos que sempre voltam a si mesmo.
Como é lindo esse menino!
Mas disso ele ainda não sabe.
Sempre fora o homem dos outros, os braços dos outros, os pés dos outros.
Pés...
Seus pés nunca foram calçados, pois ele sempre tirou de si para calçar os outros.
Mas esse menino esqueceu que pode dividir o que tem, que pode pedir, que pode sofrer, que pode perder, que pode chorar.
O homem ainda é menino.
Um menino que só quer correr, quer brincar, quer sair de si e voar...
Ele não quer parar o trem. Ele quer deixar o trem passar.
Mas...
Dentro desse menino habitam os mais belos sonhos, desejos, vontades, anseios...
Dentro dele há sempre algo a contrair e esticar, a escorrer, a rodar, dentro dele sempre há o amor. Amor que circula, que encanta, mas que ainda não fecundou.
Outro dia, esse menino tentou se ver no espelho. O espelho estava lá, histórias estavam lá, mas ele mesmo lá não estava. O encontro consigo mesmo fez com que o menino conseguisse apenas ver em seu rosto histórias, pessoas, sonhos, mas não viu o que queria.
Não se viu!
O menino então resolve entrar em seu próprio espelho na busca de encontrar aquilo que procura.
Entrar em seu próprio espelho é um caminho que pode não ter volta. Quando se decide entrar ou nos encontramos ou nos perdemos ainda mais.
O menino agora está dentro de si.
Mas ainda não voltou.
Por que não quis?
Por que não conseguiu...
Só sabe que ainda precisa estar lá.
O menino ainda viaja de si para si.
Mas o trem corre e a estrada é longa.
O tempo de voltar não é algo fácil de ser descoberto.
O menino precisa apenas entender que o caminho de volta tem que ser diferente. Algo tem que voltar com ele. Algo que só ele sentiu, algo que é só dele mesmo e que seja novo.
O trem está seguindo seu fluxo, mas o menino ainda está na contramão de sua história.
É homem pra todos.
É menino pra si.
(...)
O espelho se quebra e a realidade lhe bate a porta.
O que fazer? Como se encontrar? Quando?
O trem já passou e ele...

Um comentário:

m. o. disse...

É, esse texto me esclarece algumas coisas...